segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

LATERALIDADE



A palavra lateralidade tem sua origem no termo latus que, em grego, quer dizer lado. 

Assim, define-se por lateralidade a sensação que permite ao indivíduo perceber que seu corpo é constituído por duas metades e que não são exatamente iguais. Trata-se de um conceito que implica a organização espacial e, principalmente, o reconhecimento das coordenadas espaciais como frente, atrás, alto, baixo mas, sobretudo, direita e esquerda à partir do próprio indivíduo ou de um ponto de referência no espaço ou no plano.

A noção de lateralidade é formada de maneira lenta e progressiva e apresenta aspectos muito complexos no que tange a aquisição do dextrismo e sinistrismo pelo indivíduo. Com base nisto, não se pode considerar um elemento dextro apenas porque existe nele uma preferência para desenvolver um trabalho com o membro superior direito; é preciso, também, levar em consideração os membros inferiores, os olhos e a observação deve ser feita durante o transcurso de uma atividade. Por esta razão, a noção de lateralidade dominante é muito controvertida, o que existe, segundo Finger (1986), realmente no indivíduo, é uma dominância lateral determinada pelas funções neurológicas, mas que funcionalmente é relativa.

Mas quando se define a lateralidade?  De acordo com Brandão (1984), desde quando a criança deixa de fazer a aproximação bimanual e passa a segurar objetos tanto com a mão direita como com a esquerda, isto é, após o 7º mês de vida, até que se instale a dominância definitiva, a preferência por uma das mãos flutua de um lado para o outro, sendo muito difícil precisar o momento exato da evolução em que a lateralidade se define. Entretanto, desde o fim do primeiro ano de vida, a lateralidade começa a se evidenciar. Na maior parte das crianças, a preferência por uma das mãos, por exemplo, já está estabelecida entre 18 meses e 2 anos mas, só se pode considerara a dominância constituída, de forma definitiva, entre os 5 e 7 anos de idade. 

Alguns estudiosos como, por exemplo, Gesell, acreditam que desde o período do Reflexo Tônico Cervical Assimétrico (RTCA) já existe preferência para um dos lados, isto porque, estudos realizados apontam que o braço do lado para o qual a cabeça predominantemente se volta e desperta a resposta involuntária (reflexa) corresponde à mão dominante.


Brandão (1984) afirma que a lateralidade manual dominante pode ser reconhecida por três tipos de provas, são elas: 

1) verificando-se qual das mãos é usada, de forma preferencial, nas atividades da vida
    diária; 
2)  verificando-se qual das mãos é mas hábil e rápida para executar uma tarefa; e,

3)  verificando-se qual das mãos  é usada mais espontaneamente durante uma atividade
 que exija a participação das duas mãos (exemplo: dar as cartas do baralho). Neste
 último tipo de prova, a mão não dominante tende a ser a que fixa os objetos sobre os
 quais a ação é executada a fim de permitir e auxiliar o bom exercício da mão
 dominante.

Do mesmo modo que existe lateralidade manual dominante, isto é, a preferência por uma das mãos, nos indivíduos  ditos normais, existe, também, uma nítida preferência por um dos pés (lateralidade podal dominante), para dar início à marcha, para subir um degrau, para chutar, etc. Ainda segundo Brandão (1984),  para se avaliar a preferência por um dos pés, podemos nos servir de várias provas, são elas:


1) provas que evidenciam o uso preferencial de um dos pés (a- chutar uma bola, colocada no chão, a 20 cm aproximadamente à frente, e exatamente na linha média entre os dois pés. Prova para crianças entre os 18 meses e 5 anos. A lateralidade dominante podal corresponde ao pé que executa o chute); b- prova das barras de equilíbrio aonde se verifica qual o pé que a criança preferentemente inicia o passo nas barras. Prova para crianças entre 3 e 6 anos de idade; c- prova do jogo da ‘amarelinha” aonde a preferência pelo pé com que a criança se mantém ao solo e pula nos sinaliza a lateralidade dominante; e, d- o modo como uma criança sobe num tamborete e corresponde a uma prova também de equilíbrio e força. O pé escolhido para subir corresponde ao pé dominante).

Para que o resultado possa ser válido nas duas primeiras provas (a e b), é necessário 
que a criança chute ou inicie a marcha com o mesmo pé pelo menos um número de 
vezes superior a 2/3 do número total de experiências executadas.
2) provas em que se evidencia o melhor equilíbrio sobre um dos pés (a- ao andar nas 
barras de equilíbrio, o número de vezes que a criança perde o pé direito ou esquerdo, 
indica em que membro inferior ela tem maior equilíbrio; b- o jogo da “amarelinha” 
quando  é pedido à criança par repetir a jogada com a outra perna e é observada as 
condições de equilíbrio e, consequentemente, em qual das pernas a atividade é 
executada com maior eficiência; e, c- a maneira como a criança permanece sobre um 
pé só. Prova para criança entre 30 meses e 5 anos).

Ainda em se tratando do assunto “lateralidade”, não se pode deixar de mencionar a lateralidade preferencial ocular. Brandão (1984) defende que existe uma nítida preferência em olharmos com um dos olhos e que, comumente, também temos maior facilidade  em fechar um olho que o outro.

Independente de qual seja a lateralidade (manual, podal ou ocular),  ainda de acordo com Brandão (1984), o fato é que é de extrema importância a sua afirmação. Isto acontece porque há certos fatos que devem ser destacados:

1) são poucas as atividades em que  os dois segmentos (as duas mãos ou os dois pés) 
executam os mesmos movimentos;

2) sempre que a lateralidade não está muito bem definida e que o indivíduo é 
ambidestro, há: a- de alguma maneira, diminuição da habilidade; b- aparecimento de  
sincinesias por imitação; c- desfavorecimento no desenvolvimento das funções 
 intelectivas, no ajustamento emocional e afetivo, refletida, muitas vezes, num atraso 
de linguagem e em alterações da escrita;

3) o verdadeiro canhoto é tão hábil quanto a pessoa destra;

A ambidestria não pode ser tolerada porque pode acarretar inúmeros prejuízos.
Conforme defende Brandão (1984) ela, realmente, prejudica profundamente a
criança no seu desenvolvimento. No indivíduo com a dominância do olho e da mão
invertida (por exemplo, dominância manual direita e dominância ocular esquerda),
podem surgir, também algumas perturbações e dificuldades, principalmente em
relação à aprendizagem da leitura e da escrita.

Por fim, se uma criança é destra, ela deve continuar como destra e, se ela for sinistra, 
não há nenhum inconveniente em que ela continue como canhota. O importante é 
definir a lateralidade e não permitir que a criança ambidestra, continue ambidestra, 
sem ter conseguido definir a sua dominância de modo normal.

O conhecimento da lateralidade tem uma grande importância para nos orientarmos e
podermos localizar os objetos nos espaços. Existe sim, uma relação bem estreita  entre 
lateralidade e estabelecimento das relações espaciais.


O conhecimento da lateralidade tem uma grande importância para nos orientarmos e
podermos localizar os objetos nos espaços. Existe sim, uma relação bem estreita entre 
lateralidade e estabelecimento das relações espaciais.

(Texto escrito por Dra. Sacha Queiroz – Terapeuta Ocupacional)



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